A História da Minha Terra

Os Celtas, os Visigodos, os Bárbaros, os Lusitanos, os Romanos, os Árabes, tantos e tantos povos que encheram de história esta pequena grande terra.
Quando a Ribeira de Santarém um dia for 'Amada' então os seus filhos e admiradores descobrirão que a História de Portugal é muito rica.
Esta a terra onde nasci, Princesa abandonada junto do rio que tanto lhe deu e tanto lhe tira.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quando Até A Alma Doi

 Em Março de 2012, poucos dias antes de partir para o México, decidi mostrar ao meu filho, então com doze anos, a Igreja de Santa Iria. Local da minha infância, igreja onde fui baptizado e ponto de encontro de uma juventude que esperava ansiosamente pelas datas das efemérides, como o Natal, onde em grupos nos deslocávamos às barreiras das Portas do Sol e Buraco de Salinas para recolhermos o musgo , elemento primordial com que 'confeccionávamos' o célebre presépio da Ribeira.
Depois de perguntar como poderia visitar a Igreja (encerrada há treze anos) foi-me informado que a porta estava aberta, facto que estranhei mas não hesitei, avancei com o meu filhote.
Já há muito que eu sabia que a igreja estava encerrada para 'obras' mas o que encontrei foi uma igreja abandonada, completamente esquecida.



Esta a porta por onde entramos, pequeno quintal à direita da igreja junto de um edifício onde em tempos funcionou uma oficina auto. Por aqui já dá para entender o que esperávamos.

Antes de prosseguir um comentário à parte:
- Qualquer culto inclusive o católico necessita de três partes para sobreviver. A saber, os fiéis, os que acreditam e vivem nessa fé e fazem o culto mais ou menos maior de acordo com a sua quantidade  e qualidade. São na sua maioria gente simples e que dão o que muitas vezes não deveriam para manter a sua fé, é a Plebe.
- Depois vem aqueles que tem de  manter as aparências porque a sociedade assim o exige uns com fé, outros nem por isso, vão à missa exibindo o seu melhor fato e as suas melhores jóias e dão pouco, muito pouco, porque os tempos estão difíceis e as jóias estão caras, é a Nobreza.
- Depois vem aqueles que vivem dos dois, são aqueles que bem falantes em geral, vão pregando a palavra do Senhor e convencendo os demais que há um lugar no céu esperando-os, é o Clero.

O que se tem verificado na Ribeira de Santarém nos últimos anos é que sendo uma terra pequena e sem perspectivas de crescimento foi perdendo a sua massa vital, as Gentes. A Plebe sem grandes expectativas, tenta sobreviver o melhor que pode procurando outras margens, a Nobreza sem as condições que o Estado Novo lhes proporcionava viu-se na obrigação de pagar aos 'criados' as férias, os décimos terceiros meses e demais direitos conquistados, logo enfraquecendo o orçamento já de si débil e o Clero como não consegue viver de milagres foi encerrando edifícios de culto um pouco por todos os lados. O Neo-Liberalismo não se apoderou só do País está também nas entranhas da Igreja neste caso da Católica.

Embora eu creia (e trata-se apenas de uma opinião pessoal, nada de juízos de valor) que no caso da Ribeira de Santarém algo mais está para contar. Porque se foi encerrada porque uma parede ameaçava ruína, ao fim de todos estes anos sem o mínimo de manutenção, não só não caiu a tal parede como o que agora parece querer cair é todo o edifício, dizia eu, algo parece escapar ao comum dos mortais.
Senão vejamos, para além de todas as obras de arte que faziam o espólio da igreja e não eram assim tão poucas, de toda a memória daquelas pedras e daqueles azulejos, temos uma escultura que se destaca das demais, a Escultura de Cristo do Mont'Iraz.
Trata-se de uma escultura de valor incalculável, uns dizendo ser do séc. XII outros do séc XIII, outros ainda colocando a sua origem bem mais atrás no tempo. Se bem que nunca seja referido o seu autor, há quem aponte para um traço de origem italiana.
Cristo de Mont'Iráz  Autor desconhecido, escola portuguesa, Século XIV (meados) Escultura em madeira policromada. Ribeira de Santarém, Igreja Paroquial de Santa Iria.

Esta foto e esta legenda vem publicadas na obra Las Edades Del Hombre, 2006 Catedral de Ciudad Rodrigo, pág, 310.
Para os mais atentos, sabe-se que esta não é a escultura que existia na Ribeira mas esta:

  Aqui uma foto de Otília Frade Pires que retirei no Facebook, porque inexplicavelmente as fotos que eu possuía nos meus blogues foram todas apagadas.
Mesmo para os mais leigos nota-se que existe uma profunda diferença. Mas atenção, se a foto a que os espanhóis fazem referência não for uma réplica de imitação pode muito bem tratar-se  de uma escultura do mesmo criador.

Quando me for possível reunir mais material de pesquisa, voltarei ao assunto. Vamos então entrar na Igreja de Santa Iria, eu e o meu 'filhote'.


 Quem a vê por fora não diz o que lá vai dentro.



O altar onde era suposto estar a figura de Cristo de Monte'Iráz
A incúria e a falta de responsabilidade de quem manda nisto

A porta que se vê nesta foto dá acesso à Torre onde para lá dos sinos está ou estaria um relógio que fazia soar os mesmos sinos a todas as horas e meias horas. A meio da Torre, numa porta à direita de quem sobe tínhamos acesso a um patamar (?) que há muito fazia de armazém onde era suposto estar entre outras 'coisas', a figura do Senhor dos Passos (desconheço o autor) e um órgão. À direita da foto a entrada para a Pia Baptismal.


Embora a foto não esteja muito católica é a Pia Baptismal
Outra perspectiva triste da Igreja Paroquial de Santa Iria
Tal como o país, assim está a igreja, escorada.




Alguns dos painéis de azulejos, verdadeiras obras de arte ao abandono.

O meu filho, para que não restem dúvidas da minha intenção primária. Uma sociedade que trata assim o seu património só se define como ela é. Uma sociedade pobre de valores e sem respeito pela sua história.
Eu não esperava encontrar o que encontrei dentro da Igreja de Santa Iria, por isso as fotos foram tiradas com um telemóvel daí a qualidade que deixa muito a desejar. Mas percebe-se a incompetência e o ponto a que chegou o nosso país.

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