A História da Minha Terra

Os Celtas, os Visigodos, os Bárbaros, os Lusitanos, os Romanos, os Árabes, tantos e tantos povos que encheram de história esta pequena grande terra.
Quando a Ribeira de Santarém um dia for 'Amada' então os seus filhos e admiradores descobrirão que a História de Portugal é muito rica.
Esta a terra onde nasci, Princesa abandonada junto do rio que tanto lhe deu e tanto lhe tira.

sábado, 16 de agosto de 2014

SANTARÉM, AS BARREIRAS E A CANALHICE QUE VIVE DE TUDO ISTO

Quando os árabes chegaram à Península Ibérica, cedo se encantaram com a semelhança entre Santarém, o rio Tejo e o seu país.
As inundações cíclicas do Tejo, a riqueza das terras banhadas pelo rio e a fartura de água por toda esta região fizeram de Santarém, possivelmente, a Capital de um Reino Muçulmano.
Outros povos que por aqui passaram já tinham deixado as suas marcas com especial destaque para os romanos, mas foram os árabes que durante mais de quatrocentos anos não só manteriam o que já estava construído como aperfeiçoaram e desenvolverem.

De facto, a velha Scállabis romana foi ocupada pelos muçulmanos no ano 714 e passou a chamar-se Shantarin. Pelos seus conhecimentos de hidráulica, os árabes introduziram várias melhorias na agricultura praticada na região, algumas das quais ainda permanecem: valas de drenagem, diques e técnicas de cultivo, que foram importantes para o aproveitamento das potencialidades agrícolas das margens do Tejo. A palavra Lezíria, por exemplo, é de origem árabe, assim como outros termos ainda utilizados que identificam nascentes e poços (assacaias), pequenas cheias (alvercas ou azielas) ou tapadas e diques (amotas). Uma moeda sugere a função de Capital  de um reino árabe. Várias obras desenvolvidas na Ribeira de Santarém e no centro da cidade puseram a descoberto, nos últimos anos, um conjunto significativo de vestígios da presença muçulmana. Entre eles destaca-se um raríssimo 'Dinar' (moeda) de ouro descoberto no subsolo da Ribeira, cunhado em nome de um Emir quase desconhecido, Hacic-Jalib Muwafac. Esta descoberta veio lançar a dúvida, uma vez que os dados existentes referiam que Shantarin era uma cidade importante subordinada ao governo do emirado de Córdova (Espanha). O aparecimento desta nova moeda, com o nome de um Emir mais ou menos desconhecido, levanta especialmente a possibilidade de a cidade ter sido sede de um Reino Taifa.
É que este Emir não é referido na história do emirado de Córdova e era praticamente desconhecido, até agora. Subsiste, por isso, a possibilidade de ter governado Santarém e toda a região envolvente. O que podemos dizer é que a vocação agrícola de Santarém foi inventada pelos árabes, que construíram as obras de hidráulica, em que eles eram mestres e secaram os campos adjacentes à cidade, na maioria pântanos, através de diques e valas. Tudo isso permanece na toponímia da região, com expressões como valadas ou mouchões.
Esses árabes ao se aperceberem de que a linda Scállabis estava assente sobre uma mistura de argila e areia abundantemente enriquecida de água, de imediato decidiram de que haveriam de protegê-la. Iniciaram assim um conjunto de obras hidráulicas que visavam a drenagem das suas barreiras para que a sua sustentabilidade não corresse riscos, já que os romanos tinha apenas se preocupado com as estradas e as pontes sendo que algumas nascentes foram aproveitadas por estes para locais termais como foi o caso da chamada Mina do Pastor.

Quem como eu, conhece um pouco daquelas barreiras, sabe da quantidade enorme de túneis de drenagem existentes desde o vale que dá acesso a Alfange até ao planalto de S. Bento. Os árabes sabiam o que estava em causa e mantiveram sempre uma vigília constante nas suas obras hidráulicas. Vigília que se foi transmitindo através dos tempos até cerca de quarenta anos atrás. Depois surgiram os inteligentes especializados em gabinetes e o resultado está à vista. Recordo-me de na minha infância, quando tudo de moderno nos faltava, de passarmos o tempo em aventuras (e que aventuras) por aquelas barreiras e explorarmos todas aquelas 'minas' assim lhes chamavam os mais velhos  àqueles túneis de drenagem.
Não sei por ordem de quem, mas sei que a maioria daqueles túneis foram encerrados a tijolo e os mais importantes levaram portas de ferro com cadeados para que fosse possível a sua manutenção temporária.
Alguns desses túneis alimentavam e alimentam chafarizes que ainda se podem ver na estrada Santarém-Almeirim. Todos os anos lá iam os velhos funcionários da JAE limpar as minas para que aos viajantes nunca lhes faltasse água e aos animais.  As terras drenavam e aos sedentos se lhes matava a sede. Uma das minas que mais água tinha ficava junto da Porta de Santiago.






Há cerca de quarenta anos um casal de idosos ainda mantinha no local um pequeno terreno de cultivo com um tanque de cerca de quatro metros quadrados que lhes abastecia de água fresca e cristalina todo o ano. Era o idoso que todos os anos limpava a mina que abastecia a sua horta. Tudo acabou. Os srs. faleceram os mais novos foram para outras andanças e cerca de vinte anos depois, num inverno mais rigoroso toda aquela zona avançou dezenas de metros subterrando a estrada, obrigando a um novo traçado da mesma e colocando em risco as casas no topo da barreira.


Passando por esta porta e descendo o caminho medieval em direcção à Ribeira de Santarém logo após terminar o muro de sustentação que vemos nesta imagem (à esquerda do ciclista), a cerca de uma centena de metros temos ainda os vestígios de um chafariz de origem medieval que era alimentado por um outro túnel que fica cerca de trinta metros acima. Com a falta de limpeza desse túnel de drenagem o chafariz há muito que secou e a água está indo para outro lado. Os terrenos ali já desmoronaram um pouco, veremos o que o futuro trará.

Quem desce a estrada de Santarém para Almeirim mas decide mais ou menos a meio mudar a direcção à esquerda e entrar para a Calçada da Atamarma junto ao Bom Jesus das Almas, antes de o fazer  vai encontrar à direita umas ruínas de uma igreja.Igreja de Santiago que foi uma freguesia em tempos idos e mais recentemente armazém de ferro-velho. Por detrás dessas ruínas existiam dois túneis de drenagem, um que abastecia a igreja de água e outro mais acima que os residentes utilizavam para rega.
Foi aqui que as terras desmoronaram, em pleno verão. Até estou convencido de que a Igreja ainda contribuiu para que a coisa não fosse pior ao deter o avanço das terras. Manutenção dos túneis de drenagem? Nada. Até penso de que os idiotas que ocupam o burgo camarário tenham desconhecimento da existência desses túneis. No tempo da J.A.E. Junta Autónoma das Estradas, no tempo da outra senhora, havia uma equipa de trabalho que se ocupava da limpeza e manutenção dos túneis que rodeiam a cidade. A excepção eram as ditas barreiras das Portas do Sol cuja frente está virada para o rio. Aqui a responsabilidade estava (não sei se ainda se mantém) a cargo da C.P.- Caminhos de Ferro de Portugal. Ora as coisas entretanto mudaram, a J.A.E. foi substituída pela Estradas de Portugal e a C.P. está fragmentada até ao tutano. Como o dinheiro é pouco para os canalhas que se alimentam em ambas as organizações resta aos indígenas esperar que as barreiras não lhes caiam em cima no momento que possam por ali passar. 

Bonita a paisagem aqui de cima, a Igreja de Alcáçova e sua envolvente. Ao centro da foto em baixo onde duas árvores se destacam pela sua grandeza está o tal chafariz onde já não corre água há muitos anos. "Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura", lá diz o velho provérbio. Para que um dia não corra sangue é urgente saber para onde vai a água que percorre as entranhas de Santarém, parece que o projecto para sustentar todas as barreiras custa dezoito milhões de euros, sem derrapagem, se Santarém tivesse gente que a pensasse poderiam, deveriam de começar já. Uma equipe de dois homens seria o suficiente para iniciarem JÁ, a limpeza dos túneis de drenagem que os árabes construíram, depois viriam as grandes obras, ou estão à espera de que um dia a estrada que vai do defunto Rosa Damasceno às Portas do sol se corte em duas e arraste até à morte quem lá vive?

Fontes de pesquisa: Jornal Público e Google

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Enterro do Bacalhau e o Exército da Vassoura I

Quem conhece um pouco da história universal, sabe que há lugares que por uma qualquer razão sempre despertaram a cobiça e a inveja de outros povos, sendo que às vezes essa cobiça, inveja ou outro sentimento qualquer negativo , muitas das vezes nasce no próprio seio desses lugares.

Não sei se a Ribeira de Santarém é um desses lugares, mas coisas sem aparentemente qualquer explicação lógica tem acontecido em relação à terra que me viu nascer e para que a memória perdure decidi publicá-lo.
Os que partilharam a infância comigo sabem que nunca tive habilidade para jogar à bola, preferia o Hóquei em Patins e o Atletismo, em especial a Corrida, mas como naqueles tempos a Ribeira não tinha um local para poder praticar tais desportos as consequências se reflectiram no calçado utilizado.
Na maioria das vezes em que os putos se entretinham com a dita 'bola' eu passava o meu tempo nas margens do rio Tejo, nas Valas, nas barreiras, enfim sonhando aventuras que tinha acabado de ler num qualquer livro que levantava na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.


   Aos poucos fui 'escutando' o meio envolvente e mais tarde deliciava-me a escutar os mais 'velhos' da terra. Foram horas e dias em que fui acumulando as histórias que me contavam, muitas das vezes envolvidas em amplos debates entre os 'historiadores' que divergiam entre si neste ou naquele pormenor.

Quero destacar entre esses 'oradores/historiadores' os nomes de João de Barros Ferreira Nunes, o 'João Batatinha'(aquele que mais histórias me contou); o 'Manel Barbeiro'; o Sr. Neves; o Carlos Tondela; o Manuel 'Velhadas'; o Ti Patrício; o sr. João (Guarda Nocturno) e tantos outros, que com nostalgia contaram as suas infâncias e que guardei o melhor que pude.

Jamais esquecerei as incontáveis noites passadas ora no Sporting Clube Ribeirense ora no Teatro Clube Ribeirense, muitas das vezes à volta de uma mesa de 'pano verde' onde quase sempre a Ribeira, as suas gentes e os seus costumes, eram o tema principal.


Nesta foto tirada durante um cortejo das Festas Da Ribeira, no edifício ao fundo mesmo por detrás do 'Zé da Bola', destacam-se dois personagens (um com o dedo na boca, eu, ao lado de camisa branca o Celestino Cunha, o homem do som nas festas) estamos numa das janelas do Sporting Club Ribeirense onde era montado um estúdio de som para apoio dos cortejos e das picarias.

Aqui o Teatro Clube Ribeirense, edifício Centenário, a primeira  Colectividade de todo o Concelho de Santarém. Consultando os seus arquivos verificarão que esta colectividade nasceu sobre uma outra instituição, o Instituto de Socorro a Náufragos (ainda existe desse tempo, um estandarte ou bandeira). Local de encontro entre ribeiristas e Alexandre Herculano. Aqui na Ribeira de Santarém vivia um comerciante, grande amigo de Herculano, amigo esse que sempre que o escritor se deslocava a Lisboa e por lá se demorava uns dias, tomava conta da Quinta de Vale de Lobos, propriedade de Herculano. Este edifício recebia assim por muitas vezes a visita de Alexandre Herculano que escreveu um dia: "Ribeira de Santarém é Movimento, é Vida. Santarém é estagnação, é morte." Ora como podem imaginar, isto não agradou quer ao Clero quer à Nobreza de Santarém.
Tive o privilégio de partilhar amizade com um dos maiores investigadores e divulgadores da obra de Alexandre Herculano, o Professor e Historiador Cândido Beirante. Foram muitas as horas e os dias à conversa com o Professor e falávamos muito sobre a História de Portugal e em especial a história da Ribeira de Santarém e Santarém. Contava-me o Professor das barbaridades cometidas contra o património de Santarém e em especial contra o património da Ribeira. Foram muitas as conversas e as investigações para tentar-mos saber onde ficava a loja desse amigo de Herculano que entre outras coisas vendia alguns produtos que o escritor produzia na sua quinta. Nunca conseguimos desvendar esse mistério.

Contava-me o Professor de um dos muitos ataques perpetrados contra o nosso património. Todos os que conhecem um pouco da Ribeira de Santarém sabem onde fica a 'Casa da Dédé', esta:
                                                                  
                                                                  
Trata-se da Ermida de Nossa Senhora das Neves, erigida sobre uma outra capela a de Santa Iria (a velha). Entre esta Ermida e as primeiras casas à sua direita, agora um espaço vazio, quase em frente à casa do Fernando Sá (Grande Amigo) existia um edifício que, imaginem, foi demolido pelos autarcas de Santarém. Nesse edifício, em tempos pertença de nobres ribeirenses ligados ao Clero, existia uma pequena capelinha onde se destacava um pequeno oratório embutido na parede onde se podia ver uma pequena escultura de Santa Iria, vinda da Ermida da Senhora das Neves ao lado. Esse oratório ou pequeno altar estava por cima de um painel de azulejos seiscentista de um valor incalculável. Do lado direito num acesso a um pátio interior um pequeno poço cujas pedras superiores tinham vindo de uma pequena torre da capela de Santa Iria (a velha) depois Ermida da Senhora das Neves. Essas pedras já de si tinham vindo de uma importante Vila Romana existente entre a Ribeira e Vale de Figueira. No piso desse edifício eram visíveis algumas sepulturas medievais de valor histórico. Quando um dia o Professor Cândido Beirante se deslocou à Ribeira com uma turma sua de estudantes para lhes mostrar toda a história daquela zona e o seu património, reparou que o tal edifício tinha 'desaparecido'. Ao princípio ainda pensou que estava enganado, mas não, conversando com algumas pessoas foi-lhe dito que a Câmara Municipal de Santarém tinha mandado demolir a casa porque ameaçava ruína. Informado depois onde as máquinas tinham despejado o entulho dirigindo-se de imediato para lá com seus alunos foi durante uns dias vasculhando todo o amontoado de História que um Inteligente Camarário tinha com sua 'sensibilidade' para ali despejado. Ainda recuperou alguns azulejos e algumas pedras cheias de História (para os tais senhores da Câmara, calhaus) levou-as para um sótão a 'rebentar' pois também lá tinha partes de umas colunas que recuperou da tal Vila Romana entre a Ribeira e Vale de Figueira. É assim que os autarcas tratam a nossa História de tão cultos que são.
Ermida de Nossa Senhora das Neves - Ribeira de Santarém

Nada me admira nas atitudes da maioria dos Autarcas que por Santarém tem passado, sei que haverá excepções, poucas, mas também temos a nossa 'cota' parte de responsabilidade pois escolhemos partidos e não pessoas, dá, no que tem dado. Mas se dos autarcas não se esperava esta falta de sensibilidade para a nossa história, destes senhores a coisa fica mais impressionante:

-  Instituto de Cestão do Património Arquitectónico e Arqueológico

Ao clicarem neste nome "Igreja de Santa Iria", serão direccionados para uma página deste instituto onde se dá a informação da Igreja Paroquial de Santa Iria. É surrealista, estes senhores 'cuidam' do nosso património. Dão a informação da Igreja, por 'acaso' encerrada, mas as imagens que aparecem são da Ermida de Nossa Senhora das Neves. Claro que se eu os contacta-se para lhes dar conta do erro, surgiria a informação de 'erro informático', recuso-me a perder tempo com estes senhores pagos por todos nós e que trabalham assim.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quando Até A Alma Doi

 Em Março de 2012, poucos dias antes de partir para o México, decidi mostrar ao meu filho, então com doze anos, a Igreja de Santa Iria. Local da minha infância, igreja onde fui baptizado e ponto de encontro de uma juventude que esperava ansiosamente pelas datas das efemérides, como o Natal, onde em grupos nos deslocávamos às barreiras das Portas do Sol e Buraco de Salinas para recolhermos o musgo , elemento primordial com que 'confeccionávamos' o célebre presépio da Ribeira.
Depois de perguntar como poderia visitar a Igreja (encerrada há treze anos) foi-me informado que a porta estava aberta, facto que estranhei mas não hesitei, avancei com o meu filhote.
Já há muito que eu sabia que a igreja estava encerrada para 'obras' mas o que encontrei foi uma igreja abandonada, completamente esquecida.



Esta a porta por onde entramos, pequeno quintal à direita da igreja junto de um edifício onde em tempos funcionou uma oficina auto. Por aqui já dá para entender o que esperávamos.

Antes de prosseguir um comentário à parte:
- Qualquer culto inclusive o católico necessita de três partes para sobreviver. A saber, os fiéis, os que acreditam e vivem nessa fé e fazem o culto mais ou menos maior de acordo com a sua quantidade  e qualidade. São na sua maioria gente simples e que dão o que muitas vezes não deveriam para manter a sua fé, é a Plebe.
- Depois vem aqueles que tem de  manter as aparências porque a sociedade assim o exige uns com fé, outros nem por isso, vão à missa exibindo o seu melhor fato e as suas melhores jóias e dão pouco, muito pouco, porque os tempos estão difíceis e as jóias estão caras, é a Nobreza.
- Depois vem aqueles que vivem dos dois, são aqueles que bem falantes em geral, vão pregando a palavra do Senhor e convencendo os demais que há um lugar no céu esperando-os, é o Clero.

O que se tem verificado na Ribeira de Santarém nos últimos anos é que sendo uma terra pequena e sem perspectivas de crescimento foi perdendo a sua massa vital, as Gentes. A Plebe sem grandes expectativas, tenta sobreviver o melhor que pode procurando outras margens, a Nobreza sem as condições que o Estado Novo lhes proporcionava viu-se na obrigação de pagar aos 'criados' as férias, os décimos terceiros meses e demais direitos conquistados, logo enfraquecendo o orçamento já de si débil e o Clero como não consegue viver de milagres foi encerrando edifícios de culto um pouco por todos os lados. O Neo-Liberalismo não se apoderou só do País está também nas entranhas da Igreja neste caso da Católica.

Embora eu creia (e trata-se apenas de uma opinião pessoal, nada de juízos de valor) que no caso da Ribeira de Santarém algo mais está para contar. Porque se foi encerrada porque uma parede ameaçava ruína, ao fim de todos estes anos sem o mínimo de manutenção, não só não caiu a tal parede como o que agora parece querer cair é todo o edifício, dizia eu, algo parece escapar ao comum dos mortais.
Senão vejamos, para além de todas as obras de arte que faziam o espólio da igreja e não eram assim tão poucas, de toda a memória daquelas pedras e daqueles azulejos, temos uma escultura que se destaca das demais, a Escultura de Cristo do Mont'Iraz.
Trata-se de uma escultura de valor incalculável, uns dizendo ser do séc. XII outros do séc XIII, outros ainda colocando a sua origem bem mais atrás no tempo. Se bem que nunca seja referido o seu autor, há quem aponte para um traço de origem italiana.
Cristo de Mont'Iráz  Autor desconhecido, escola portuguesa, Século XIV (meados) Escultura em madeira policromada. Ribeira de Santarém, Igreja Paroquial de Santa Iria.

Esta foto e esta legenda vem publicadas na obra Las Edades Del Hombre, 2006 Catedral de Ciudad Rodrigo, pág, 310.
Para os mais atentos, sabe-se que esta não é a escultura que existia na Ribeira mas esta:

  Aqui uma foto de Otília Frade Pires que retirei no Facebook, porque inexplicavelmente as fotos que eu possuía nos meus blogues foram todas apagadas.
Mesmo para os mais leigos nota-se que existe uma profunda diferença. Mas atenção, se a foto a que os espanhóis fazem referência não for uma réplica de imitação pode muito bem tratar-se  de uma escultura do mesmo criador.

Quando me for possível reunir mais material de pesquisa, voltarei ao assunto. Vamos então entrar na Igreja de Santa Iria, eu e o meu 'filhote'.


 Quem a vê por fora não diz o que lá vai dentro.



O altar onde era suposto estar a figura de Cristo de Monte'Iráz
A incúria e a falta de responsabilidade de quem manda nisto

A porta que se vê nesta foto dá acesso à Torre onde para lá dos sinos está ou estaria um relógio que fazia soar os mesmos sinos a todas as horas e meias horas. A meio da Torre, numa porta à direita de quem sobe tínhamos acesso a um patamar (?) que há muito fazia de armazém onde era suposto estar entre outras 'coisas', a figura do Senhor dos Passos (desconheço o autor) e um órgão. À direita da foto a entrada para a Pia Baptismal.


Embora a foto não esteja muito católica é a Pia Baptismal
Outra perspectiva triste da Igreja Paroquial de Santa Iria
Tal como o país, assim está a igreja, escorada.




Alguns dos painéis de azulejos, verdadeiras obras de arte ao abandono.

O meu filho, para que não restem dúvidas da minha intenção primária. Uma sociedade que trata assim o seu património só se define como ela é. Uma sociedade pobre de valores e sem respeito pela sua história.
Eu não esperava encontrar o que encontrei dentro da Igreja de Santa Iria, por isso as fotos foram tiradas com um telemóvel daí a qualidade que deixa muito a desejar. Mas percebe-se a incompetência e o ponto a que chegou o nosso país.

quarta-feira, 9 de março de 2011

No Tempo em que o Tejo era a Grande Estrada e pela Ribeira tudo passava.


Viagem Pela Ribeira de Santarém

  A Música que escolhi para este meu vídeo só poderia ser 'Celtibera' de Júlio Pereira do seu álbum 'Os Sete Instrumentos" de 1986.
  As fotos foram recolhidas por aí na Internet e de certa forma perpetuam a História da Ribeira de Santarém.

                                     

terça-feira, 8 de março de 2011

Meu Coração é Árabe

São as laranjas brasas que mostram sobre os ramos
as suas cores vivas
ou rostos que assomam
entre as verdes cortinas dos palaquins?

São os ramos que se balouçam ou formas delicadas
por cujo amor sofro o que sofro?

Vejo a laranjeira que nos mostra os seus frutos:
parecem lágrimas coloridas de vermelho
pelos tormentos do amor.

Estão congeladas mas se fundissem seriam vinho.
Mãos mágicas moldaram a terra para as formar.

São como bolas de cornalina em ramos de topázio                
e na mão do zéfiro há martelos para as golpear.

Umas vezes beijamos os frutos
outras cheiramos o seu olor
e assim são alternadamente
rosto de donzelas ou pomos de perfume.

Ibn Sâra - Poeta árabe nascido em Santarém,al-Ândalus. séc. XI (1043-1123)

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Conquista de Lisboa

Lisboa, não teria sido possível conquistá-la sem primeiro conquistar Santarém, comece-mos então pelo princípio.

"A Conquista de Lisboa"  e  "A Conquista de Lisboa -Tomo 2 - Por Vontade de Deus", maravilhosa Banda Desenhada de Pedro Massano, encanta-nos pela sua narrativa e pelo seu rigor histórico. É impressionante as obras com que este Autor se documenta e os Historiadores que com ele colaboram. Eu diria que Pedro Massano entrou numa 'Máquina do Tempo' e viajou até à Alta Idade Média Peninsular para nos trazer através da Banda Desenhada, as narrativas e as imagens das conquistas de Santarém e de Lisboa por Afonso Henriques.

Destaco neste blogue duas 'fotos' de Santarém do Séc. XII captadas pela 'máquina' de Pedro Massano que me impressionaram pelo rigor, sei do que falo, nasci na Ribeira de Santarém e a minha infância foi a calcorrear aquelas colinas e aqueles vales que fizeram as minhas aventuras. OBRIGADO Pedro Massano.

Edições Foto-Jornal, LDA  Edição para o MontePio Geral
Booktree, Sociedade Editorial, Lda
                                                  
A conquista de Lisboa em 1147, por Afonso Henriques, não é descrita, em nenhuma fonte coeva nacional com a relevância que seria de esperar, para um feito que envolveu meios logísticos e humanos tão consideráveis à época, como um cerco de 4 meses ou o auxílio de um exército de cruzados estimado em mais de 12.000 homens.
Contrariando tudo o que julgamos conhecer do seu “carácter”, Afonso limitou-se a aproveitar, da imensa operação, uma das “duas igrejas construídas pelos francos para sepultura dos mortos” e sagrá-la em nome do mártir S.Vicente.
E esta discrição do auto-proclamado primeiro rei de Portugal é, estranha mas inteiramente, corroborada pela carta para Osberno, contemporânea dos acontecimentos. Não pareceu ao autor correcto, ou sequer desejável, limitar-se a ilustrá-la por duas razões: a primeira é estar já publicada e a sua mera ilustração haver de resumir-se a isso mesmo. A segunda, é confinar-se, apenas, ao relato factual – de um episódio – que só não é neutro por ter sido escrito por um católico durante uma “guerra santa”.
Assim sendo, encontrará o leitor uma outra trama, que enquadra a acção narrada na referida carta, onde se entre-chocam obscuros interesses e misteriosos personagens. Mas, para isso, há que mergulhar na “idade das trevas”, a Alta Idade Média Peninsular, e recuar uns meses a partir da data que culmina no evento descrito, 25 de Outubro de 1147.

Pedro Massano

Santarém e Alfange

Assente no magnífico afloramento rochoso de onde ainda hoje, domina o plaino ribatejano, Santarém, era, no séc XII, um espinho cravado no coração da Belatha (Nome dado pelos árabes a toda a região abrangida pelos castelos de Santarém, Lisboa e Sintra).
Do seu promontório partiam as incursões mouras a punir a reconquista cristã, as suas características de praça forte natural faziam dela o carrasco do noroeste peninsular.
Muralhada desde sempre, a visão e destemor do seu Kahid Abu Zacarias (Califa de Santarém) dotaram-na de um conjunto soberbo de defesas que, partindo do aproveitamento e ampliação do sistema Godo pré-existente, não só trancava as suas portas (Fluviais e Terrestres) como desencorajava qualquer presunção de ataque.
Assim não entendia, porém, Afonso Henriques para quem este "Paraíso Deleitoso", pela Nobreza e Abastança de seu assento, era fundamental ao seu plano de expansão, além de miradouro estratégico, e de celeiro farto, Santarém era a porta para tomar Lisboa.

Se gosta de História e quer ler mais sobre a conquista de Santarém aos árabes por Afonso Henriques
clique neste link:  A Tomada de Santarém

Banda Desenhada de Pedro Massano do seu álbum: A Conquista de Lisboa 

Santarém e Seserigo (Ribeira de Santarém)

Banda Desenhada de Pedro Massano do seu álbum: A Conquista de Lisboa


                                                                             

Uma Rosa

Chega a ti, Abû ʿÂmir, uma rosa. // Recorda-te o perfume as suas exalações.
É como ver uma donzela que ao ser vista // cobrisse com as mangas a cabeça.





أتَـتْكَ أبا عـــامِرِ وَرْدةٌ // تَذَكَّرَكَ الطِّيبُ أنْفاسَــــــها
كَعَذْراءَ أنْصَرَها مُبْصِرٌ // فَغَطَّتْ بِأكْمامِها رأسَـــــها








De: Ibn Sâra - Poeta árabe nascido em Santarém,al-Ândalus. séc. XI. (1043-1123)
Fonte: pausa sobre as ruínas